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Alckmin, Haddad e Kafka

2014

(Internet)Observatório Geral


O jornal Estado de São Paulo traz em sua capa de 24/jan/2014, uma foto de um policial a paisana agredindo dependentes na cracolândia. A ação dita ‘rotineira’ foi do DENARC, sob ordens do Estado de São Paulo. Todavia, a Prefeitura iniciou há 1 semana a operação “Braços Abertos” – uma tentativa (paternalista e eleitoral) de acabar com a cracolândia, através do fornecimento de moradia, comida, emprego…

Qual é a notícia? O ‘desconforto’ entre o prefeito e o governador!

Qual é a relevância disto? Quem mandou? Quem desmandou? E o ano eleitoral? E o PT? E o PSDB? Blá, blá, blá. Isto não me interessa. Sabe o que me chocou? A foto. Sim, a foto.

A violência prazerosa de bater numa pessoa, como se estivesse matando uma barata. Isto sim choca. Se o policial é do Estado, da Prefeitura ou do raio que o parta, isto não interessa. Nem mesmo quem ele é interessa, porque ele representa o desejo sanitizante da sociedade. Aquelas pessoas estão feias, sujas, miseráveis, entorpecidas, entregues e representam tudo que pode dar errado na sociedade. Ninguém quer ver o que é feio e num surto narcisista o policial agiu como um dedetizador contratado. Barata se mata com porrada, bala de borracha e veneno. Seu cassetete desceu com o apoio de grande parte da sociedade. Kafka nunca esteve tão vivo entre nós…

Diante do medo interno que cada um de nós tem ao se ver refletido na barata que o outro se transformou, surge a ira, que não é contra o viciado, mas contra nós próprios. Acabar com ‘aquilo’ é a forma mais rápida que encontramos de nos livrar do pavor que temos. Não existe compaixão quando a fúria é interna e contra nós próprios. Revidamos no que o outro representa. Aquele ‘zumbi’ eu não quero ser nunca!

Escondemos nossos medos mais profundos na violência que despejamos. Uma parte nossa já está na cracolândia, mas isto não interessa a ninguém.

Carla Beni, economista, professora da FGV (Management)



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