”O quadrante do desespero. – Os pontos de vista e os focos de preocupação variam ao infinito, mas toda reflexão crítica sobre a vida em sociedade envolve uma definição em torno de dois parâmetros básicos. O primeiro é a extensão do hiato entre, de um lado, o mundo tal como ele existe e, de outro, o mundo como ele poderia ou deveria ser: o fosso entre o real e o ideal. E o segundo é o grau de poder e de competência do qual se dispõe a fim de transformar a realidade na direção desejada: o eixo que se alonga do voluntarismo extremado, no qual tudo é questão de vontade, ao absoluto fatalismo de que as coisas são como são e não há nada que se possa efetivamente fazer para mudá-las. Na matriz definida pelas combinações desses dois pares, o quadrante do desespero tem endereço certo: a percepção de um hiato absurdo entre a realidade e o potencial humano aliada a uma não menos aguda sensação de impotência diante do desafio de impulsionar a mudança. – Enfrentar e neutralizar o repuxo gravitacional do quadrante do desespero é a tarefa diuturna dos que lutam para manter viva a chama da expectativa de algo melhor no futuro – o corpo a corpo da esperança.
Eduardo Gianetti em Trópicos Utópicos, p.76.
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